sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Educar é saber dizer NÃO!

Primeiramente, Feliz Ano Novo a todos! Fiquei um tempo longe do blog (enquanto acumulava mais gorduras na região abdominal, somando as comilanças das festas de fim-de-ano com um calorzinho bom nas praias do Paraná) mas agora estou de volta com as baterias recarregadas. Os 3 (três) seguidores do blog ficarão contentes com isso.

Fiquei longe do blog, porém "antenado" nas notícias. Infelizmente nem todos tiveram um bom início de ano. Talvez seja um pouco tarde pra falar sobre esse assunto, ainda mais nesse mundo tão imediatista - onde notícias se tornam "old" com muita rapidez -, mas acho importante abordar a questão de um modo diferente.

Ano passado, exatamente no dia 5 de janeiro, ao ler algumas notícias na internet, deparei-me com uma chamada interessante. Como trabalho com planos diretores achei muito engraçado. Vejam só:



Resolvi guardar a imagem pois me imaginei em uma sala de aula, ou uma palestra para estudantes, ao tentar justificar a importância de um plano diretor. Vi-me falando: "Viram só o estado que a pobre cidade de São Luiz do Paraitinga ficou, só porque não tem plano diretor?". Imaginei gargalhadas dos alunos, enquanto eu me preparava para reprimí-los ante a seriedade da questão.

A seguinte imagem aparecia ao clicar no destaque:


Provavelmente um editor mal-informado, ou um estagiário mesmo, colocou a culpa da enchente no plano diretor. Ficou engraçado, perfeito pra um início de palestra. Deixei guardado pra uma ocasião especial.

Surpresa mesmo foi ver a próxima imagem, um ano depois:


Notaram a semelhança? Notaram que as datas são muito próximas, porém em anos diferentes? Pelo menos agora ninguém culpou o plano diretor, ou a falta dele.

Coitado do plano diretor. Ele sabia. Ele avisou, ou pelo menos tentou avisar. Ele falou que existiam áreas de risco de ocupação, que deveriam ser mantidas intactas. Ele alertou para a necessidade de fiscalização, de acompanhamento e monitoramento dessas áreas. Ele até citou dois amigos: o código florestal (este já mais velho e cansado das firulas dos progressivistas) e a resolução conama 303/2002 (incansável recém-formada, sempre presente em seminários e congressos) como referências, mas ninguém lhe deu bola.

O plano diretor então, preocupado com a sazonalidade dos desastres, somado à possibilidade do aumento das chuvas pelo fenômeno do aquecimento global, não se limitou a alertar. Criou até um mapinha para ajudar aos que não tinham tempo e nem paciência para ler. Esse mapinha foi apresentado em audiência pública. Vieram várias pessoas, entre autoridades, jornais, rádios, e curiosos incentivados pelo lanche grátis. "Que bonito", disse o filho de 5 anos do prefeito. Sua mãe pediu uma cópia à equipe técnica da prefeitura, só que sem as cores, para que seu filho pudesse colorir com seus lápis-de-cor de 36 unidades, recém comprados para o ano letivo (a lista da escola pediu de 12, mas como ele iria se destacar?). Todos bateram palmas ao final do evento e foram satisfeitos para suas casas, pois haviam participado democraticamente das decisões de sua cidade. O único vereador presente se arrependeu de ter saído no começo da audiência, porque as fotos que saíram nos jornais foram do final do evento. "Vou reclamar com o editor", pensou.

Após a aprovação por unanimidade na câmara, o plano diretor ganhou um lugar de honra - com direito a capa dura com letras impressas em dourado - na estante do prefeito, sendo ali imortalizado em diversas imagens oficiais, ao servir de fundo para a tradicional foto na mesa, enquanto a autoridade máxima assina documentos importantes para o futuro da cidade...

O plano diretor virou o malvado da história quando as invasões começaram. "Coitados deles", pensou o prefeito. "Aliás, ninguém quer essas áreas de preservação mesmo. São baratas, os proprietários nem ligam pra elas". "Se bem que tem o plano diretor né"..."autorizar eu não posso, é contra a lei". Mandou instalar energia pro povo, afinal sem luz eles não podem ficar. As instalações de água vieram logo em seguida. "Que homem bom", a septagenária do novo bairro fez questão de disseminar aos mais jovens. A região, então, "prosperou". Algum dia alguém regulariza aquela região lá, ou mudam esse tal de plano diretor... chato.

E, então, o plano diretor se calou. Seu amigo, o código florestal, o havia alertado sobre essa possibilidade. Ele aguardaria o momento - não por ego ou por vingança - em que diria "eu falei". Ele sabia que a natureza tem um poder muito maior que o ser humano. Conhecê-la, saber de suas possibilidades, e tentar ajudar - e não atrapalhar - o desenvolvimento,  era seu propósito, sua razão de existir. "Agora é tarde", pensou triste ao ver as notícias pelo áudio da televisão da sala do gabinete do prefeito, pois havia sido relocado para a gaveta do armário, porque a estante precisava ser povoada com livros novos sobre administração moderna, vulgo "autoajuda". O que restou do mapa de zoneamento - aquele que foi consagrado na audiência pública - foi a cópia colorida pelo seu filho, pregada na parede lateral.

O plano diretor, hoje, é esse cara aqui:


Não adianta vir agora dizendo que não tinha como prever. Todo ano ocorrem desastres naturais no Brasil, na mesma época, nos mesmos lugares. Milhões, bilhões são gastos pra serviços emergencias, reconstrução, relocamento, enfim, a restauração da dignidade das pessoas. Sempre falo que educar é saber dizer NÃO em determinados momentos. Infelizmente os políticos - que decidem nossos futuros - estão longe de ser educadores.

Não incentive o que é errado. Ouça o vovô plano diretor. Ele sabe das coisas, tem experiência, conhece a região como ninguém.



Até o ano que vem galera!