domingo, 25 de março de 2012

Economista americano é a favor de estimular (ainda mais) a concentração urbana.

(Cópia do email enviado à Revista Veja, referente à entrevista com o economista americano Edward Glaeser na edição com data de 28/03/2012)


Tentarei resumir minha impressão ao ler a entrevista com o Sr. Edward Glaeser: que bom que poucos economistas americanos planejam nossas cidades. Não acreditei quando li a afirmação dele de que basicamente só lugares com alta concentração de gente justificariam investimentos em grandes museus, teatros, hospitais, escolas e universidades.

É incrível como o Sr. Glaeser usa informações cuidadosamente selecionadas para justificar seu argumento. Como ignorar o dado de que a maioria da população residente em São Paulo sairia da metrópole se pudesse? Ao ser confrontado, ele justifica pela incompetência de governos em lidar com os problemas urbanos e muda de assunto, como se o aumento da produtividade resolvesse tudo.

Dados por dados aí vai um: a maioria das pessoas muito produtivas é infeliz. Elas não produzem porque são felizes, mas porque não são. Buscam constantemente a perfeição que nunca encontrarão. O dinheiro não é capaz de sanar esse sentimento de falta. Qualidade de vida não se mede em produtividade, Sr. Glaeser. É uma condição inerente ao ser humano, e não às empresas. Essas sim são felizes nas grandes cidades.

O que ele defende é o clássico pensamento modernista - característico da era industrial, no início do século XX. Pensava-se a produtividade como o foco da vida das pessoas. Demoramos muitos anos para estudar os efeitos que o excesso de concentração urbana - decorrente dessa necessidade produtiva - trouxe para a sociedade e para as próprias pessoas.

Só saberemos o porquê desse pensamento "atual" se estudarmos a rotina urbana do Sr. Glaeser. Aposto que ele não mora próximo do metrô, não pega um ônibus apertado todo dia às 5 da manhã para chegar no trabalho às 8, não deve ser constantemente assaltado, não deve ter filhos com problemas com drogas e, provavelmente, nunca teve que aguardar na fila para ser atendido em um hospital público.

Tenho problemas em entender os estudiosos de escritório, que acham que os números justificam tudo. Planejar uma cidade é mais do que isso. Só confio em um método de pesquisa apropriado para o levantamento adequado dos problemas urbanos: a imersão. Tem que botar o pé na rua! Pegar ônibus, tentar conseguir um remédio na rede pública, usar o sanitário em uma residência de situação de risco, ligar para o chefe e avisar que vai chegar atrasado porque existe uma greve, enchente ou qualquer outro problema. Conversar, e muito, com as pessoas, porque simplesmente não dá para tentar entender todos os aspectos desse enorme formigueiro chamado cidade sozinho. O estudioso de Harvard de terno não é corajoso por achar que entende o mundo e dizer que está tudo errado. Isso é fácil.

É muito interessante comparar essa entrevista com a da Presidente Dilma, algumas páginas após. O "choque" cultural entre as mentalidades é gritante. A colocação das duas na mesma edição parece proposital. Parabéns à Veja por mostrar a controvérsia diretamente, sem filtros.

Thiago Cesar de Oliveira
Arquiteto e Urbanista
Cascavel/PR

Um comentário:

  1. A Veja não publicou o meu comentário à entrevista, talvez porque seja pouco ortodoxo, hehehe. É o meu modo de criticar as coisas. Porém, gostei de ver diversas pessoas, de vários lugares do país, indignadas com as teorias defendidas pelo estudioso. Talvez em João Pessoa precisem de um pouco mais de senso crítico.

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