Dia 21 de setembro se comemora o Dia Nacional
de Luta da Pessoa com Deficiência.
Alguns podem pensar porque foi usado o termo
“luta”. Essa palavra em geral é utilizada para guerras, batalhas, combates,
disputas. Todos esses infortúnios criados pelo ser humano exigem algum esforço
ou comprometimento físico. Às vezes até demais. Como, então, pessoas com
deficiência poderiam lutar?
Observem a imagem abaixo:
Essa é uma vista da Rua Barata Ribeiro,
próximo ao Hospital Sírio-Libanês. Área nobre da capital paulista, próximo à
Avenida Paulista – centro do centro econômico do país. Claro que os famosos
chegam de helicóptero.
Isso nos leva a pensar: o que é
acessibilidade? O que é acessível? Segundo a norma NBR 9050, da ABNT, é um
espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento que possa ser
alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa, inclusive
aquelas com mobilidade reduzida.
Pensemos na imagem acima. Pensemos nas ruas
por onde passamos todos os dias. Pensemos em nossas casas, os locais onde
trabalhamos, onde fazemos nossas compras, onde praticamos atividades físicas ou
de lazer. Não posso deixar de pensar: acessível para quem? Ali quase é
necessário escalar!
É muito claro que a definição é utópica. Eu
prefiro o termo “acessibilidade universal” – antes utilizado –, pois a utopia
de conseguir abranger o universo todo está mais clara, escancarada na própria
palavra.
Então, é uma luta sim! Se eu penei para subir
essa ladeira, imaginem uma pessoa em cadeira de rodas, de muletas ou com
bengalas. Não precisa ter deficiência física. Um esportista de final de semana
com físico invejável (como eu), recuperando-se de uma lesão no joelho. Que tal
uma senhora de idade? Ou um garotão que se alimenta à base de proteínas,
aminoácidos e outras drogas sintéticas, mas carrega a compra do supermercado em
um carrinho de mão? Todos terão dificuldades.
E enquanto discutimos as condições (ou falta
de condições) para tornar nosso ambiente mais acessível, os médicos estão
fazendo pesquisas com células-tronco e outras para achar formas de recuperar a
capacidade física das pessoas. Alguns até se aventuram em áreas como física,
cinética, robótica. Os médicos estão buscando áreas diversas das especialidades
deles – saindo das zonas de conforto. Porque não podemos fazer o mesmo?
O CENSO de 2010, realizado pelo IBGE, aponta
que cerca de 23,90% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. São
45,6 milhões de pessoas que se locomovem, vêem, ouvem e pensam de forma
diferente do “normal”. São cidadãos que teriam muito mais dificuldades diante
de situações como a da ladeira.
A luta de toda essa galera não é somente
contra as barreiras físicas. São inúmeros os casos de problemas psicológicos
causados pelo preconceito e outros infortúnios criados pelo ser humano. A luta
ainda passa pela burocracia de governos, pelo egoísmo criado pelas
características capitalistas e, em último caso, pela omissão daqueles que acham
que já têm problemas suficientes.
Imagine-se com uma deficiência. Imagine um
filho seu com deficiência. Ou um irmão.
Penso que as pessoas com deficiências somente
ganharão essa luta se não estiverem sozinhas. Não precisa ter um grandioso
nível de comprometimento para ajudar. Não é necessário ter uma lei que obrigue
a fazer (mas tem). É no nosso dia-a-dia que tomamos decisões que podem afetar as
vidas dessas pessoas. Nesses momentos é que podemos cumprir o óbvio, o
esperado, o banal, ou podemos fazer pequenas ações extraordinárias.
A luta é nossa! Não é só deles! O nome
deveria ser “Dia de Luta PELA Pessoa com Deficiência”. Tratemos deles como
merecem ser tratados: como se fossem das nossas famílias. Aí sim teremos
motivos para comemorar.
Então, enquanto os médicos não descobrem
maneiras mais eficazes de fazer com que as pessoas com deficiências se levantem
e cheguem ao nosso nível, devemos, nós, chegar ao nível deles.
Isso significa que devemos baixar o nosso nível?
Sim! Somente com um olhar com altura entre
1,0m e 1,20m é que teremos a visão real do desafio.
Façam um exercício ao passarem por uma
calçada com piso tátil. Definam seu destino, fechem os olhos e andem. Usem o
tato como guia. Não vale espiar. Mas cuidado com os carros!